CEU Pêra Marmelo, São Paulo, 31 de outubro de 2011.
Encerramento da temporada de Cirulação de Anjos Negros em EJAs.
Estorva-me uma reflexão de como é necessário um diálogo mais amplo com o público. Sim, é tarefa do artista conduzi-lo através e para além do espetáculo. E creio que esta condução não se dá no bate-papo, na vivência ou em cena. É a partir da mediação entre estes três instrumentos que se estabelece o diálogo.
Desisti de provocar hipóteses sobre "como ler" a obra de arte.
Veio de um dos espectadores uma fala:
_ Parabéns. É muito lindo. Mas eu não entendi. Só que eu não consigo explicar o que eu não entendi.
Pergunto:
_ Vocês tem aula de filosofia?.
_ Não.
_ Tem aula de literatura?
_ Não.
Penso: MEU! Que difícil falar sobre o não matemático, o não racional, se não se é estimulado o consumo de fontes não racionais... Sem poesia, sem romances, sem imaginação, sem entrelinhas...
Alguém diz: _ Eu não sei explicar, mas eu tive sensações, sentimentos... É abstrato...
Ainda assim, pergunto:
_ O que é abstrato?
Uma pessoa responde_ É o que não tem sentido...
Então eu: _ O que é o amor? Você seria capaz de explicar o que é o amor?
Além de balanços de cabeça afirmativos e negativos, alguém responde:
_ É alguma coisa que às vezes atrapalha...
Desisti de provocar possibilidades de leitura dos símbolos continentes na cena. Pensei que quanto mais quiser tangenciar o sensível pelo estímulo da reflexão sobre o sensível, mais me distancio dele, de sua genuinidade.
Fiz um silêncio, e depois engasguei-me com meu quase choro ao agradecê-los por estarem ali e por representarem o fechamento de uma experiência para mim profundamente engrandecedora.
Então resolvi finalizar esta temporada com um apelo: Gostaria que vocês tentassem, e se esforçassem, para passar por momentos aos quais não se sabe explicar. Gostaria que experimentassem quebrar a ordem do dia a dia, com qualquer coisa, desde que não saibam explicar o que se passa.
Eu vou fazer o mesmo.
Vanessa finaliza o bate-papo: Alguém tem mais alguma pergunta?
Sim: _ Quando vocês vão voltar? Vocês vem no ano que vem?
Ivan
